The hand of doom: livros de referência do gênero mais pesado do metal



Há algum tempo desfrutando de certa "popularidade" no underground musical, o doom metal por longo período foi um dos subgêneros mais obscuros do metal, seja pelo fato de ser um peixe fora d'água dentro de um gênero que prioriza a velocidade e o virtuosismo (vulgo shredding) ou por conta de não se envolver em polêmicas e controvérsias que chamam a atenção principalmente da mídia.

Como principais características do gênero, podemos citar: andamento lento, amplo uso de escalas menores (incluindo penta blues, frígio e lócrio), dissonâncias (a 5ª diminuta, ou trítono, intervalo apelidado pela igreja católica como diabolus in musica entre o fim da Idade Média e o século XVIII, utilizado na já referida música "Black Sabbath"), power chords (por conta da abundância de saturação nas guitarras), uso massivo de fuzz ou distorção, preferência por afinações baixas (é normal a utilização de guitarras barítono ou de 7 cordas) para enfatizar frequências graves, amplificadores de alta potência (100 ou 120w, valvulados e geralmente de marcas como Laney, Orange, Matamp e Sunn) para amplitudes hipnóticas e quase ensurdecedoras, composições de longa duração e letras que giram em torno de temas como drogas e psicodelia; misticismo, ocultismo e satanismo; melancolia, pessimismo e niilismo; e fantasia, horror e ficção científica.

Apesar de muitos desavisados acharem que o subgênero em questão é uma novidade no mundo metálico, a primeira música do primeiro disco da banda que é tida como a gênese definitiva do metal é um genuíno doom metal, ainda que por certo tempo não tenha sido nomeada como tal.



Atualmente, e felizmente, o doom tem representantes em todos os recônditos deste mundão, com ramificações que exploram diversas estéticas musicais, líricas e indumentárias, como o traditional doom, com bandas da década de 1970 e outras mais recentes que resgatam o estilo, que é mais próximo das origens da música pesada, ligadas ao heavy metal, hard rock, occult rock, blues e rock clássico, como os mestres supremos do Black Sabbath (momento descarado de tietagem), Pentagram, Saint Vitus, Trouble, Witchfinder General, Reverend Bizarre, Witchcraft e Count Raven.

Na sequência, em termos cronológicos, temos o epic doom, também bastante ligado ao heavy metal tradicional, mas com amplo uso de teclados, vocais operísticos e letras com temas mitológicos, fantásticos e... épicos. A banda mais comumente associada ao estilo é a sueca Candlemass, com outros representantes como Solitude Aeturnus, While Heaven Wept, Memento Mori, Isole, Solstice e Doomsword.

A primeira ascensão ocorreu no fim da década de 1980 e começo de 1990, com o surgimento do detah/doom, iniciado pelas bandas Disembowelment e Winter, sendo depois popularizado por Paradise Lost, My Dying Bride, Anathema, Autopsy, Amorphis, Novembers Doom e Saturnus. Daí em diante, o gênero deslanchou e surgiram diversos outros subgêneros: funeral doom (Thergothon, Mournful Congregation, Esoteric, Evoken, Funeral, Skepticism); black-doom (Katatonia, Barathrum, Deinonychus, Bethlehem, Forgotten Tomb, Shining, Nortt, October Tide), gothic doom (Theatre of Tragedy, Type O Negative, Draconian, Tristania, The Foreshadowing, Grave Lines, Artrosis, Ava Inferi), sludge metal (uma mistura de doom com hardcore e/ou crust, com bandas como Melvins, Eyehategod, Crowbar, Acid Bath, Neurosis, Dystopia, Buzzov*en, Grief, Iron Monkey), stoner doom (Sleep, Cathedral, Electric Wizard, Acid King, Orange Goblin, Weedeater, Stoned Jesus), drone doom (Sunn O))), Earth, Boris, Khanate, Locrian, Nadja, Eagle Twin, Teeth of Lions Rule the Divine), entre outros.

E para a imensa alegria daqueles que, assim como eu, são apaixonado pelo estilo e suas ramificações, ou para aqueles que buscam uma boa referência para iniciação ao gênero, a editora britânica Cult Never Dies publicou os livros (em inglês) Doom Metal Lexicanum IDoom Metal Lexicanum II, ambos de autoria do russo Aleksey Evdokimov. Enquanto o primeiro volume é voltado ao traditional, epic e stoner doom, o segundo é focado no death-doom, ambos com extensa lista de bandas, com biografia e discografia selecionada, e fechando com entrevistas com músicos, produtores e membros de selos especializados.

E se a língua inglesa não é o seu forte, não desanime. A editora mineira Estética Torta, que vem publicando traduções de ótimos livros sobre metal, está prestes a lançar a versão em português, com capa dura, dos livros Doom Metal Lexicanum I e II., que totalizam cerca de 1.200 páginas de muito conteúdo. Mas não marque bobeira, pois os livros serão vendidos em conjunto com tiragem limitada a 500 cópias.

Uma excelente oportunidade para você "doominar" o estilo mais hipnótico, taciturno, chapado e pesado do metal.


Referências:

EVDOKIMOV, Aleksey. Doom Metal Lexicanum. London: Cult Never Dies; Crypt Publications, 2017.

EVDOKIMOV, Aleksey. Doom Metal Lexicanum II. London: Cult Never Dies; Crypt Publications, 2021.


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