Livrão!
Tudo começou com "Helter Skelter". É o que afirma J. R. Moores em seu grande (em tamanho e relevância) livro Electric Wizards: A Tapestry of Heavy Music – 1968 to Present, publicado em 2021, no auge daquela pandemia global que ninguém há de esquecer (agravada consideravelmente pela presença do fascismo fundamentalista no poder neste país. Detalhe: a presença dessas três palavras – pandemia, fascismo e fundamentalismo – em uma mesma frase dá uma ideia da desgraça que foram esses tempos sórdidos). Passei grande parte desse período nefasto esperando pela chegada desse livro, que comprei na pré-venda, mas a demora foi tanta que só pude lê-lo após o tão aguardado fim da pandemia.
Mas voltando ao livro… O autor endeusa os Beatles, especialmente Paul McCartney, a quem coloca num pedestal dourado e responsabiliza por grande parte dos avanços criativos, estéticos e conceituais do rock pós Chuck Berry, Little Richard e Elvis Presley. E menciona a referida música como o pontapé inicial para o surgimento da música pesada. A faixa em questão fica ali meio escondida no lado A do disco dois (é a penúltima do "lado três") do disco homônimo, também conhecido como "White Album", o décimo da banda que é provavelmente a mais popular de todos os tempos. Uma faixa que ficou meio de lado, até mesmo esquecida, por ser experimental e barulhenta demais para os padrões da época, chegando a ser encarada por público e crítica como uma brincadeira de estúdio dos rapazes de Liverpool. A música só recebeu notoriedade quando, em 1969, um ano após o lançamento do disco, a atriz Sharon Tate foi assassinada pelos discípulos de Charles Mason, que afirmou ter sido influenciado pelo disco em questão, especialmente por "Helter Skelter", nome que foi escrito com o sangue das vítimas na geladeira da casa onde o crime fora cometido. Moores alega que o ocorrido marcou o fim da era hippie e deu início a uma época mais pessimista, cínica, sombria e mórbida, denotado na música popular com o peso a agressividade do rock que viria a se desenvolver a partir de então.
Electric Wizards traça, a partir daí, uma possível genealogia para a música pesada, saindo dos Beatles e do rock psicodélico para o hard rock e Black Sabbath, passando pelo acid rock, funk, punk rock, industrial rock, noise rock, Napalm Death, grunge, doom, stoner, pós-rock e pós-metal… e por aí vai, até chegar mais ou menos nos dias de hoje.
Isso tudo me deixou com a pulga atrás da orelha, o que me levou a pesquisar o assunto em profundidade para buscar descobrir a origem do conceito de "peso" (heaviness) na música, para entender tudo o que antecedeu "Helter Skelter", já que, como diz a máxima, "Nada se cria…" – tema que é tratado em profundidade pelo documentário Everything is a Remix (2010), de Kirby Ferguson, que vou comentar aqui num texto futuro. Enfim… Minha dúvida gerou o artigo A pedra de uma tonelada: como o rock 'n' roll ficou pesado, que pode ser lido aqui.
Electric Wizards – o livro, não a banda – empolga, é nostálgico (dependendo da sua idade), informa e ainda suscita desdobramentos para a pesquisa realizada pelo autor. De brinde, Moores ainda disponibiliza uma playlist do Spotify com boa parte das bandas mencionadas no livro.
Livraço!
Referência:
MOORES, J. R. Electric Wizards: a tapestry of heavy music: 1968 to the present. London: Reaktion Books, 2021.
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